Oração

13 de dezembro de 2011

Queria falar, mas minhas palavras eram de ódio.
Ódio de Deus, da medicina falha, do próprio corpo humano.
Então chorei.
Chorei rios e mares. A água saía de mim e me ensopava por fora na tentativa de desafogar o que transbordava por dentro.
Ódio.
Ódio que de tão palpável poderia até ser sólido.
Mas não era sólido, era líquido.
Líquido, denso, cinzento. E me afogava.
Tive vontade de sair na rua e gritar por justiça. Berrar perguntando o Por Que. Por que com ela? Por que?
Mas achei melhor rezar baixinho.
Uma reza que escorresse dos olhos e, humilde, implorasse piedade e cura se essa fosse a Sua vontade.
Queria xingar a maldita doença.
Mas nem isso fiz, com medo.
Após o ataque de choro, o medo me consumiu e acabou por tomar o lugar do ódio.
Tornei-me só medo. Medo inteira.
Maldito medo que, apesar de exalado por todos os poros, não escorre, não desafoga, não alivia.
Quando olhei pra ela, decidi respirar fundo, entreabrir espaço no peito apertado, caçar ali dentro um sorriso perdido e me prender a ele com todas as forças.
Restavam poucas, é verdade, mas suficientes para manter o sorriso diante dela.
Maldita doença que faz o corpo se virar contra ele mesmo.
Ela sabe o quanto terá de lutar. Ela sabe o quanto corre riscos. Ela, melhor que ninguém, sabe que pode não sobreviver.
Ela não precisa de alguém que a lembre disso a cada minuto.
Por isso, não terei pena. De mim ela terá todo o amor do mundo, terá sempre luz, fé, reza e braços fortes.
Se nesse momento os braços são mais fortes que o coração, que sejam eles o apoio então.

É com você que eu estou falando.
Você aí que sempre me ouve quando rezo a noite para agradecer e pedir proteção.
Por favor, ouça esse pedido.
Que eu seja instrumento de luta e superação.
Que eu seja fortaleza pra ela se esconder nos meus braços.
Que eu seja mais que uma menina frágil diante de um obstáculo grande demais.
Que eu seja, enfim, o que ela precisar.
Hoje e sempre.

Bailes da Vida

2 de dezembro de 2011

Histeria. Choro. Sorriso besta. Falta de palavras. Garganta seca.
Quem nunca imaginou como se sentiria quando se encontrasse com seu ídolo?
Quem nunca sonhou que jantava com aquele ator?
Quem nunca quis trombar na rua com aquele cara que cantava músicas perfeitas para cada momento de sua vida?
Quem nunca?


Pois é, eu nunca.


Não que não tenha ídolos, tenho muitos, mas meus herois morreram de overdose, ou, em alguns casos, como no da citação, de aids. Ou estão velhos e provavelmente não frequentam os mesmos lugares que eu - o que impede um esbarrão acidental.
Por esses motivos, principalmente, nunca tive muito desses faniquitos de fãs.
E, bom, nunca ter pensado nisso se tornou um problema quando, por ironia do destino, acabei trombando com um dos meus ídolos na empresa onde trabalho.
Um ídolo velho, não um ídolo morto. Melhor deixar isso bem claro.
Pra quem não sabe, trabalho numa empresa de edição de audio, tradução e dublagem. Vira e mexe aparecem atores famosos, mas nenhum que inspire ataques de tietagem da minha parte - tirando o Dr. Abobrinha, claro, que tá sempre por aqui e... Ah, qual é?! É o Dr. Abobrinha, poxa vida! O maior vilão da minha infância! Merece admiração.
Enfim, no começo do ano a empresa pegou um trabalho grande de dublagem e o cliente exigiu que a voz do narrador fosse feita por ninguém mais, ninguém menos que Milton Nascimento.


Uau!


Quando soube disso, fiquei estranha.
Se misturar tudo o que citei na primeira linha do texto dá pra ter ideia do que senti quando mencionaram esse nome. Um frio engraçado na barriga. A mesma coisa que senti quando Paul McCartney cantou Eleanor Rigby no Engenhão. Não dá pra explicar.
A ordem do chefe foi clara: Ninguém fala com o Milton.
A não ser que ele falasse com alguém, mas como o cara é tímido isso obviamente não aconteceria.
Bom, falar não podia, mas ver podia, certo? Ninguém falou nada sobre ver.
Então me posicionei estrategicamente no corredor por onde ele ia passar, com um café, como se meu trabalho fosse ficar lá parada.
E, bom, ele passou. Passou em câmera lenta. A princípio pensei que fosse efeito da minha admiração, depois vi que ele andava devagar mesmo, com certa dificuldade.
A patroa passou por mim e riu, claro, porque ela, ao contrário do Milton, sabia que meu trabalho não era ficar tomando café ali no corredor com cara de paisagem. Então, sem mais nem menos, ela quebrou a regra do chefe.


- Ei, vem cá!
- Ah... Eu?
- É, vem cá. Milton, essa é a nossa tradutora mais jovem. Ela é sua fã.
(Milton não fala nada)
(Eu não falo nada)
(Patrão resolve falar) - Marina, Milton. Milton, Marina.
(Milton não fala nada)
(Eu não falo nada)
(Patrão resolve falar de novo) - Pode cumprimentar.
(Milton não fala nada)
(Eu quero falar que meus pais colocavam as músicas dele pra eu dormir, que pra mim ele era a melhor voz da música brasileira, que minha vontade era me jogar aos pés dele e agradecer por Bola de Meia, Bola de Gude, por Coração de Estudante e pela interpretação dele de Cálice. Mas só abro a boca e não falo nada)
(Patrão, desconcertado, fala de novo) - Marina, ele não morde.
(Então digo algo admirável, algo que qualquer fã pensaria em dizer ao seu ídolo)
- Não me morda, Milton.


Todos riem e eu vou embora. Só na escada paro pra pensar no que falei e tenho um ataque de riso que dura 20 minutos. Meu primeiro pensamento é: "Nunca vou contar isso pra ninguém". Mas, depois, pensando bem, é ridículo demais pra não ser compartilhado.


Se trombasse na rua com seu maior ídolo e só pudesse dizer uma coisa a ele, o que diria?
Imagino que algo diferente de "Não me morda".


Bom, pelo menos ele não me mordeu.

A - Vozes

22 de novembro de 2011


Vó Josephina

- Tia, por favor, faz bolinho de chuva, por favor, por favor, por favor.
- Mas, gente, tá o maior sol lá fora.
- Mas a gente quer, tia, faz bolinho de chuva por favor, por favor, faz, faz, faz.
- Pelo amor de Deus, esse bolinho é só fritura com açúcar e essas crianças não saem do meu pé. Não, gente. Sem chuva, sem bolinho.
- Por que?
- Porque... Bom... Porque... Por que vocês não vão brincar, hein?
- Crianças.
- Oi, vó?
- Por que vocês acham que o bolinho chama "bolinho de chuva"?
- Ah... Bom... Sei lá.
- Porque o ingrediente principal é a água da chuva. Não pode ser feito com qualquer água, só com a da chuva. Agora, pipoca não precisa de água nenhuma. Posso fazer pipoca pra vocês?
- Ah... Tá, pode ser então.



Vô David

- Vó! A senhora pode dar dinheiro pra gente comprar bala no Pedro?
- Não tenho dinheiro não.
- Ah, vó, por favor! Dá dinheiro.
- Já pediram pros pais de vocês?
- Já! Mandaram a gente falar com a senhora.
- Sério?
- ... Não, só disseram que não tinham dinheiro.
- Bom, eu também não tenho. Falaram com o seu avô?
- Vô! O senhor tem dinheiro pra gente comprar bala?
- Vocês vão parar de encher o saco da sua avó se eu der o dinheiro?
- Vamos!
- Então espera aí.
Ele entra num quartinho de tralhas e sai com uma caixa cheia de dinheiro. Os olhos das crianças brilham com algo que transparece "Esqueçam as balas, vamos comprar todos doces do bar do Pedro, aliás, vamos é comprar logo o bar inteiro".
As crianças saem pulando de alegria e voltam chateadas com uma bala cada uma, graciosamente dadas pelo Pedro do bar em troca da caixa de velhos cruzados do seu David.


Vô Pedro


- Filha, por que você tá rodando feito uma tonta?
- É legal, mãe. Tudo fica girando depois.
- Para com isso, você pode se machucar.
- Machucar nada! É engraçado.
- Marina, para agora!
- Não vou parar não.
- Faz o que quiser então.
- Marina.
- Oi, vô.
- É melhor ouvir a sua mãe. Girando assim você pode ficar tonta demais e acabar tropeçando no tapete, batendo a cabeça na estante e quebrando o pescoço ou algo parecido. Vai ser sangue pra todo lado, só vai dar trabalho pra gente.

Nunca mais brincou de girar.

Vó Leny


(Primeiro ano da faculdade)
- Vó, vou sair.
- Tá bom, leva a chave.
- ... Ah... Tá... Ah, vó, um amigo meu vem me buscar, a gente vai pra um bar, eu não devo beber muito porque amanhã tem aula, até umas 3h eu tô de volta, prometo. Já deixei tudo arrumado no quarto pra não acordar a senhora quando voltar. E meus pais estão sabendo que vou sair. Tô levando o celular pra senhora me ligar caso aconteça alguma coisa. Tudo bem?
- Hum... Tá bom, leva a chave.


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Agora, se você me conhece, pense bem... Isso explica muita coisa, não explica?

Terapia

10 de novembro de 2011

Oi... Meu nome é Marina e estou sem café há 2 meses.

Ooooooi, Mariiiiiiiina

Estar aqui já é uma grande conquista, sem dúvida.
Essa é a primeira vez que tenho coragem de procurar ajuda. Sempre achei que não precisava, que tomava café feito louca porque era gostoso e quentinho e tinha aquele aroma maravilhoso e... Vou parar por aqui porque tô ficando com água na boca.
Enfim, vocês vão se espantar com o que vou dizer, mas comecei a tomar café ainda criança.
Não, meus pais não deixavam. Diziam que não era coisa pra criança, que tirava o sono, mas tomavam com tanto gosto que não pude conter a curiosidade.
Provei uma vez.
Como dizem, às vezes uma vez já é o suficiente pra viciar.
Pra mim, foi.
E de fato perdi o sono. Não dormia a noite e ficava com sono de dia, o que me obrigava a tomar café pra não dormir. De tanto café pra não dormir na escola, não dormia durante a noite... Criei, aos 10 anos, um ciclo vicioso.
Até o ciclo era vicioso.
Minha mãe fez vista grossa a princípio, não queria acreditar, mas depois, quando comecei a oferecer trabalhos domésticos aos vizinhos em troca de uma xícara de café, resolveu interferir.
Sabendo que seria inútil me proibir de tomar café, já que ao lado da escola havia uma padaria com o melhor pingado da história, ela decidiu controlar meu vício.
Um café pela manhã. Um café às seis da tarde.
Só.
Ela mesma cortou o cafézinho que tomava depois do jantar pra me ajudar.
Durante alguns anos, funcionou. Até que entrei na faculdade.
Eu saí da casa dos meus pais e precisei passar noites em claro para entregar os trabalhos e estudar para as provas. Quando vi, estava tomando de quatro a cinco cafés por dia.
Com o tempo, o café parou de me tirar o sono, o que me permitia tomar a noite inteira e ainda ter um sono tranquilo.
Ao longo dos cinco anos da faculdade, convivi com uma gastrite que por muito pouco não se transformou em úlcera.
Fiz de tudo pra não morrer de dor de estômago: cortei refrigerante, gordura, cerveja... Cheguei até a tomar batata crua batida com água. É, eu sei, nojento. Fiz de tudo, menos cortar o café.
O café era sagrado.
Depois da faculdade então, tudo saiu dos eixos de vez.
Onde eu trabalho tem uma garrafa de café que fica cheinha o dia inteiro. A moça do café faz um novo a cada 3 horas.
É o diabo.
Às vezes tô fechada na minha sala, na maior inocência, e vem aquele cheiro delicioso de café sendo feito. 
Eu surto. Não consigo trabalhar enquanto não pego um copo e tomo de goladas.
Tem uma técnica pra tomar café fervendo de goladas, o tempo certo de espera, a força do sopro, a posição da boca. São técnicas que a gente aprende com o tempo.
São técnicas que quero esquecer.
Este ano fiquei doente. Uma doença que não quero revelar, basta vocês saberem que o remédio me impedia de ingerir cafeína.
Tentei tomar café sem cafeína, mas descobri que é pior que cerveja sem álcool.
Foram as três semanas mais difíceis da minha vida.
Passei noites em claro, chorei de desespero, dormi em momentos inoportunos, tive dor de cabeça, ataques de raiva, quase fui presa ao invadir um velório em busca de um copinho que fosse de café frio, cheguei a sonhar que era jogada numa xícara de café gigante e morria queimada. Acordei com febre.
Foi quando percebi que talvez aquilo não fosse normal.
Procurei ajuda na internet e descobri esse grupo.
Hoje, cortei relações com a moça do café. Carrego um vidrinho de acetona na bolsa pra cheirar toda vez que ela faz um café novo. Cada segundo é uma luta, cada gole de água é uma decepção.
Sei que tenho que viver um dia de cada vez. Cada dia um novo desafio.
Mas eu vou conseguir.
Obrigada.

Clap clap clap clap clap clap clap clap clap

Obrigado por compartilhar, Marina. Agora faremos uma pausa para um café. Voltamos em 20 minutos.

Cicatriz

4 de novembro de 2011

- No meu sonho, eu tinha tudo de volta.
- Tudo o que?
- Tudo tudo. Tudo que já tive e não tenho mais.
- Como o que?
- Como roupas, amigos, a casa onde eu morava.
- Algumas coisas de que você se lembrou?
- Não, algumas coisas não. Todas. Absolutamente todas, mas demorou um tempo pra eu perceber porque estava triste diante de tudo. Durante um tempo pareceram apenas... Sei lá... Coisas.
- E o que fez você perceber que essas coisas eram todo o seu passado?
- Percebi no momento que entrei na faculdade e dei de cara com ela.
- Vixi! Ela?
- É, ela. Ela veio e me beijou como se fizesse isso todos os dias. Como fez, de fato, no passado. Quando ela abriu aquele sorriso e falou que estava com saudade, eu olhei pra mim, pra minha roupa, pra faculdade, pra antiga casa, pra tudo, e...
- E?
- Saí correndo, me vi subindo as escadas do prédio onde moro e chegando ao telhado.
- Pra quê?
- Pra me jogar.
- Credo. Não teve medo de não ser um sonho? Sempre tenho esse medo durante sonhos esquisitos.
- Eu torci pra não ser um sonho, na verdade.
- Não entendi.
- Quando a gente perde as coisas, o tempo ajuda a apagar a dor. Seja uma coisa banal, como uma roupa, ou algo realmente importante, como um amigo. Doeu muito ver todas aquelas coisas que deixei pra trás. Mas olhar pra ela era mais do que eu podia suportar. Uma dor sobre-humana. A mesma que senti daquela vez.
- Nossa! Aí você pulou e acordou?
- Quando fui pular alguém me segurou.
- Quem?
- Acordei pensando nisso. "Quem, meu Deus, quem?"
- E aí?
- Aí olhei pro lado e vi que tava de mãos dadas com uma pessoa maravilhosa. Ela abriu os olhos com sono, sorriu e me abraçou. Então a dor foi sumindo até voltar a não ter sentido, a ser apenas uma cicatriz fechadinha.

Carta ao leitor

25 de outubro de 2011

Eu sinto muito.

Não estou pedindo desculpas nem nada, apenas constatando um fato.
Eu sinto realmente muito. Muitas coisas.
Meu corpo é sentimento rodeado de uma carcaça fina de pele, ossos e órgãos.
A vida inteira, no entanto, só mostrei a carcaça.
Passei mal durante anos até perceber que os sentimentos eram grandes demais e a carcaça fina ao extremo, e que seria preciso liberar um pouco do que eu sentia para não explodir.
Foi quando criei este blog.
A ideia básica era que ele funcionasse como terapia, como exposição do que me machucava tanto ou me alegrava tanto que não cabia em mim.
Fiquei feliz quando percebi que funcionava.
Aos poucos, os textos foram ganhando a minha forma, a minha personalidade e o meu estilo.
E me surpreendi ao notar que as pessoas liam e gostavam do que eu escrevia.
Gostavam, na verdade, de mim.
Vai entender, tem louco pra tudo.
Este foi um ano de grandes mudanças. De cidade, estilo de vida, ideais. Sentimentos à flor da pele. Talvez por isso a produtividade do blog tenha sido maior.
Com a maior produtividade vieram os leitores assíduos que, pra minha surpresa, divulgavam os textos, comentavam, retuitavam e traziam mais leitores.
O Peripécias cresceu.
E o que era pra ser apenas um espaço de despejo de sentimentos, se tornou um dos meus maiores orgulhos.
Obrigada a você, leitor, por isso.
Agora, se você é um dos visitantes assíduos, deve ter percebido que a produtividade do blog caiu bastante nos últimos dois meses.
Isso não foi por acaso. 
Em um dos primeiros textos deste blog, confessei minha paixão platônica pelo teatro.
Platônica porque quando a gente não vai atrás, as coisas não acontecem.
Pois é, tomei vergonha na cara e fui atrás.
Entrei no Macu por indicação de uma prima.
Não sabia o que esperar, só sabia que sentia um frio na barriga quando pensava nisso.
Parei de pensar e fui.
Fui, simplesmente, como poucas vezes fui na vida. E me entreguei, simplesmente, como nunca havia me entregado. Conheci gente interessante e maluca e engraçada. Gente como eu, em muitos aspectos, e completamente diferente, em centenas de outros.
Mas essas diferenças não importaram na primeira aula, nem na segunda, nem na quinta e até hoje não importam. Porque mais que brincadeiras, micro-cenas, pulos de olhos fechados e gritos de merda, o teatro me proporcionou uma leveza que eu nunca havia sentido.
Se antes eu precisava escrever um texto pra pôr pra fora o que sentia, hoje, as três horas e meia de aula por semana me esvaziam até de dores que eu nem sabia que existiam e abrem meus olhos pra um mundo muito mais divertido e simples.
Se eu vou ser atriz profissional? Não sei.
Se eu quero? Não tenha a menor dúvida disso.
Minha vontade de escrever não passou. Nunca vai passar, aliás, porque é parte importante de mim.
Mas a necessidade de escrever foi amenizada.
E por isso, a você que sempre lê e cobra textos novos, eu digo que sinto muito. Agora com tom de desculpas. Porque tenho escrito menos do que gostaria.
Mas não brigue comigo.
Este post é pra mostrar que o Peripécias, assim como eu, está bem e vivo, obrigada.
Aliás, está melhor, mais leve e mais vivo do que nunca.


Amarelo

5 de outubro de 2011

Na pretidumbre do dia, ele entra ofuscando tudo.
Vestido de amarelo dos pés à cabeça, o homem atrai olhares de susto, de medo e - principalmente - de desprezo.
Flutuando em sua incômoda felicidade, como numa propaganda de absorventes, o homem enfrenta cada cara tão fechada quanto o dia com um sorriso brilhante como o sol.
Sorriso que, quem devolve, devolve também como o sol.
Mas não brilhante. Amarelo.
Nada que sobreponha a amarela alegria do homem que, sozinho em meio a multidão, caminha tranquilamente esbofeteando a opacidade cinza da cidade.

Meu pé de jabuticaba

15 de setembro de 2011

- Morango, banana e tangerina...e você?
- Jabuticaba.
- Jabuticaba?
- Sem dúvida, jabuticaba.
- Nossa, acho que comi jabuticaba duas vezes na vida...e nem achei lá aquelas coisas.
- É a melhor fruta do mundo, seguida de perto pela pinha.
- Pinha? Pinha do pinhão? Nem sabia que era fruta.
- Não, pinha pinha. Aquela verde por fora e branca melequenta por dentro.
- Fruta do conde?
- É, essa aí, é que na minha terra chamava pinha.
- Essa sua terra deve ser bem estranha mesmo.
- Por que você diz isso?
- Uma terra onde as frutas preferidas das pessoas são jabuticaba e fruta do conde.
- Pinha.
- É, você entendeu.
- Não sei se todas as pessoas da minha terra gostam mais dessas frutas. Eu, sem dúvida, adoro.
- Mas eu moro contigo e nunca te vi comprar jabuticaba.
- Jabuticaba não se compra, se colhe da árvore da avó. Ainda mais quando cobram seis reais por um potinho de nescau de jabuticabas.
- É uma fruta estranha, os caras metem a faca mesmo.
- Não tem nada de estranho em jabuticabas. Estranho pra mim é cobrar seis reais num potinho de nescau.
- Jabuticaba é pequenininha. Um pote de nescau é bastante coisa, menina.
- Bastante? Ah, para! Bastante era o que a gente colhia quando era criança.
- "A gente" quem?
- Eu e meus primos.
- Ah, seus 30 primos?
- 15. Isso mesmo. Eram baldes e baldes de jabuticaba. Pretinha, gorda, doce.
- O que tem de tão especial?
- Já viu um pé de jabuticaba?
- Ah, talvez, sei lá. Se vi não dei bola.
- Meu vô plantou um pé muito antes de eu nascer. O sonho dele era ter um pé de jabuticaba redondo.
- Redondo?
- É, com a copa redonda.
- Por que?
- Sei lá, ele achava bonito, acho. Desde que me conheço por gente brinco naquela jabuticabeira redonda. A gente ia pra casa da minha vó uma vez a cada dois meses, mais ou menos. Cada vez que chegávamos lá, a jabuticabeira tava de um jeito. Gostava quando ela tava pelada, porque era quando a gente podia se dependurar e brincar lá em cima. Detestava quando ela tava cheia de flor, porque as tias não deixavam ninguém subir. E, óbvio, amava quando as flores viravam jabuticabas gordas e pretas e doces. Era uma festa. Todos os quinze primos subiam na árvore e passavam o dia colhendo jabuticabas, aí alguma tia lavava tudo e colocava numa bacia no meio da mesa. Bacia. Sabe o que isso significa? Uma bacia daquelas de dar banho em criança. Quilos de jabuticaba. Todo mundo comia até ficar entupido.
- E não enjoava?
- Nada.
- E não ficava com o intestino preso?
- Claro que ficava.
- E você gostava? Agora que vocês não são mais crianças, continuam fazendo isso?
- Se fosse só por mim e pelos meus primos, a história ainda seria a mesma. Mas faz quase dez anos que meu avô faleceu, minha avó tá doente, ninguém mais cuidou da árvore. Ela ainda tá lá, ainda é linda, mas não fica mais cheia de frutas como antes. O mais engraçado é que, pensando agora, a imagem mais forte na minha cabeça é a da jabuticabeira florida. Branquinha de tantas flores. Justo a imagem que eu detestava hoje acabou virando um símbolo de uma época linda.
- Nossa, me deu até vontade de conhecer essa árvore.
- Já tive vontade de plantar uma que ficasse com a copa redonda.
- Por que não planta?
- Em São Paulo?
- É...complicado.
- Não tem como, fisicamente não, mas já plantei no meu peito. E dentro de mim ela é redonda e está sempre carregadinha, de frutas e crianças.


Agora falando sério

31 de agosto de 2011

Ontem tropecei num homem.
Um mendigo.
Ele não pulou na minha frente pedindo dinheiro, como muitos fazem.
Não.
Ele estava lá. Deitado.
Dormindo no chão gelado, coberto por um pano imundo, moscas e bolinhas de isopor.
Alguém provavelmente cortou isopor ali perto e o vento carregou as bolinhas pra cima do mendigo.
Mas eu não reparei em nada disso até tropeçar nele.
Lembro-me bem de que, quando cheguei a São Paulo, me assustava com os mendigos a cada esquina que virava. Aliás, não precisava virar esquina nenhuma, eu moro no Largo Santa Cecília, há mendigos por todos os lados pedindo dinheiro pra quem sai do metrô.
Crianças. As crianças eram as que mais me impressionavam.
Imundas, fedorentas, drogadas, largadas no chão.
E as pessoas passavam por elas como se não existissem.
Quando cheguei, tinha ódio desses paulistanos sem coração. Ódio.
Como podiam não notar que havia uma criança jogada no chão?
Como podiam não sentir o cheiro, passar indiferentes diante de tanto sofrimento?
Ontem eu tropecei num mendigo.
Saindo do trabalho, preocupada demais com o que ia beber à noite, distraída demais com a música que ouvia, avoada demais com tantas coisas tão importantes.
Tão importantes que fecharam meus olhos pra um homem que dormia no meu caminho.
Quem mora nessa terra doida que é São Paulo sabe que se for se comover com todos os mendigos que encontra, vai passar todos os segundos da vida comovido.
O paulistano precisa de certa indiferença pra sair de casa.
Mas não pode ser totalmente indiferente.
Ontem eu TROPECEI num mendigo.
Ele não acordou.
Mas eu sim.
E me peguei parada olhando pro teto, horas depois, morrendo de vergonha, lembrando do pano imundo, das moscas e das bolinhas de isopor e me perguntando em que momento exatamente meu coração interiorano tinha endurecido tanto.

Insone

22 de agosto de 2011

Ela tá quase dormindo.
Quase. Dá pra sentir que a respiração tá mais pesada. Acho que vou falar. É, vou falar. Dizem que quando a pessoa tá nessa fase de sono leve ela escuta, mas não ouve, absorve a informação, mas não tem certeza se ouviu mesmo. Se for verdade, é a hora certa. É claro que eu quero que ela saiba, é óbvio, mas e se ela não gostar? O que diabos eu vou fazer se ela não gostar? Sei lá, nunca me senti desse jeito. Que coisa! E se ela gostar? E se ela abrir aquele sorriso lindo dela e me olhar no fundo dos olhos como só ela sabe fazer... O que é que EU vou fazer? Provavelmente vou ficar sem ação. Ela é boa em me deixar sem ação. Tá respirando mais fundo. Cadenciado. E agora, falo ou não falo? E se essa história de falar pro inconsciente for bobagem, quando vou tomar coragem pra falar pra ela de novo? Quando, meu Deus? QUANDO? Acho que é a hora. Se ela não gostar eu finjo que tava dormindo. Boa ideia. Quem fala dormindo é ela, eu sei. Fica linda até quando fala dormindo. Posso dizer que falo dormindo também, ué, por que não? Por que não? Isso, vou falar.
Vou falar.
Que medo.
Mas e se...Ah, dane-se, ou eu falo ou explodo.

Ei, linda...

Eu te amo.

Apenas começamos.

17 de agosto de 2011

Algumas pessoas não precisam de muito pra se tornarem especiais.
Não precisam estar sempre presentes
Não precisam ligar todos os dias.
Não precisam chamar pra festas.
Não precisam de nada disso.
Algumas pessoas, aliás, não se tornam especiais.
São.
Simples assim.
Num mundo hipotético e justo, essas pessoas viveriam pra sempre, ou, se não vivessem pra sempre, chegariam pelo menos até os 100 anos. E ainda assim seria pouco tempo.
Num mundo hipotético e justo, pessoas boas não morreriam aos 24 anos.
Mas o mundo não é justo.
Mais que não ser justo, aliás, é injusto. Injustíssimo.
Hoje, um rapaz cuja música, sorriso e olhar tive o prazer de conhecer, deixa esse mundo injusto e segue em direção ao paraíso no qual sempre acreditou.
Se eu acredito nesse paraíso?
Com todas as minhas forças.
Se não por mim, por ele.
A vida, mais uma vez, se prova curta demais.
Assim como a morte se prova incompreensível.
Aproveita o paraíso, companheiro.
Deixe o violão a postos, a garganta aquecida e o sorriso tinindo.
Foi assim que sempre te encontrei.
É assim que quero te encontrar quando me juntar a você.


"É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais"


Em homenagem a Flávio Periotto.
Músico, amigo, anjo.

O Astro

9 de agosto de 2011

Eu sou Geminiana.
Tenho ascendente em Escorpião.
Lua em Escorpião 
E isso não faz a menor diferença.

Pelo menos pra mim.

Ao contrário do que possa parecer, não sou do tipo cética. Me apego às coisas, tento acreditar, não duvido das ciências ocultas e da presença de espíritos.
É sério! Até convivo com um espírito lá em casa (o Ele) que insiste em apagar a luz da sala de vez em quando e reacender quando dá vontade. Não brinco, não tiro sarro, não acendo a luz quando Ele apaga. Ele cuida da casa à noite, Ele gosta de apagar a luz, Ele manda. Temos praticamente um acordo selado. Não me levanto de madrugada pra beber água, Ele continua invisível pra mim, e tá tudo certo.

Mas estou fugindo do assunto, não quero falar de espíritos, quero falar de signos.

É muito fácil pra vocês aí, não-geminianos, acreditarem nesse monte de baboseiras.
Facílimo!
Em algum momento da vida todo mundo tem um amigo que tem uma tia que se veste de hippie e que gosta de ler mãos, búzios, cartas, livros de auto-ajuda...e que, claro, sabe tudo de signos. E essa tia ensina isso pro seu amigo (ou sua amiga), que faz questão de fazer mapas astrais e definir características intrínsecas a cada aluno do colégio.
Sim, isso aconteceu comigo várias vezes. E o papo era sempre o mesmo:

"Áries? Oh! Áries é heroico, aventureiro. Signo de fogo! Touro? Temperamento forte, perseverante! Virgem? Signo da pureza! Leão? Respeitado, popular..."

"Ah, e Gêmeos?"

"Gêmeos é duas caras"

OOOOOPA, peraí! Eu sou de Gêmeos, meu pai é de Gêmeos, meu irmão é de Gêmeos.

Família Cury Reis, vulgo Família Duas Caras.
Prazer.

Não! Me recuso!

Melhor que ver a reação das pessoas quando você diz que é de Gêmeos, é ver a reação quando você diz que, além de tudo, tem ascendente em Escorpião. Parece que você cometeu um crime, amarrou pedra em rabo de cachorro, queimou formiga com lupa, sei lá.

"Gêmeos? Vixi! E seu ascendente? ESCORPIÃO? Caramba...Quê? Oi? Você ouviu isso? Tão me chamando ali, já volto! Adeus".

Ah, me poupe!

E as previsões de jornal, então?

"A passagem de Mercúrio por sua casa quatro faz com que os próximos dias sejam voltados a promover o bem-estar de seus parentes. Sol regente entra em virgem e movimenta sua vida familiar. Cuidado com o que fala e o que ouve, pois pode haver mal entendidos. Número da Sorte: 72. Cor: Laranja"

QUÊ?

Com o passar dos anos, algumas pessoas começaram a tentar me convencer de que era tudo uma questão de interpretação, que, pro meu alívio, eu não necessariamente era duas caras, e que sim, por mais que eu não acreditasse, a posição da Lua e do Sol no momento em que eu nasci influenciaria minha vida inteira.
Dizem que tem gente que nasce com a bunda virada pra Lua. Será que não é a Lua que fica virada pra bunda?
Bom, de qualquer forma, quando nasci ela tava virada pra Escorpião.

Nada contra quem acredita, vamos deixar isso bem claro!

Uma das minhas melhores amigas pretende tatuar o símbolo de Leão.
Isso. Tatuar. No corpo. Pra sempre.
Deixa ela! Não faço a vertente crente chata que bate na porta das pessoas nos domingos de manhã pra falar sobre minhas crenças. Não vou ficar falando que acho os signos uma grande bobagem (nem agora, nem aos domingos pela manhã), mesmo porque ela sabe disso.
O símbolo é bonito, ela gosta, o corpo é dela. Lindo! Eu não faria. Mas vai com fé!

Agora, esperar que EU acredite nisso? Já é um pouco demais.
Eu esperei os nove meses pra nascer e tal, sou paciente, mas e se acontece qualquer coisa e muda isso?
E se minha mãe fica nervosa com algum pênalti mal marcado contra o Corinthians (acontece com frequência) e entra em trabalho de parto mais cedo mudando, acidentalmente, meu ascendente?
Um pênalti poderia literalmente mudar toda a minha vida?
Ah, não, desculpe! Os astros que me perdoem, mas tenho mais o que fazer.

Vômito

29 de julho de 2011

Você chegou destruindo tudo.
Barreiras, medos, e, acima de tudo, minha inocência.
Não falo de virgindade, falo de inocência mesmo, da crença que eu tinha nas pessoas.
Antes de você, eu acreditava nas pessoas.
Eu acreditava no amor.
Eu acreditava no companheirismo.
Eu acreditava na amizade.
Eu acreditava em mim.
Caramba, eu acreditava em MIM!
E você jogou minhas crenças no lixo. Me enfiou num saco preto, foi até o córrego podre da cidade e me arremessou lá dentro.
Você ria.
Ria de mim.
E quando eu pensava em sair da merda do saco, só ouvia sua risada.
Me tranquei pro mundo porque o mundo era uma mentira.
Passei anos fantasiando uma vida toda fora daquele saco, e quando começava a acreditar que podia sair, lembrava da sua risada, da sua cara, dos seus malditos olhos claros.
Você olhava nos meus olhos.
Olhava, no fundo, e mentia.
Fui enganada pela mentira de que os olhos são o espelho da alma.
São nada.
Podem até ser o espelho de algumas pessoas, mas em você não...em você eles eram o retrato de alguém que você nunca foi e que eu sempre imaginei que fosse.
Você me olhava e ria.
Maldita risada.
Tive que lutar todos os dias pra quebrar cada mentira que você me contou.
Tive que voltar a acreditar em mim, primeiro.
Passei anos pra voltar a acreditar.
Anos.
Mas consegui.
EU CON-SE-GUI.
Ainda assim, não foi o suficiente pra acabar com o ódio que eu sentia de você.
Tive que lutar mais e voltar a acreditar nos amigos. Na bondade das pessoas. Na verdade.
Mas foi só quando voltei a acreditar no Amor que você caiu do pedestal no qual eu havia te colocado. Você ficava lá em cima, como uma imagem de santo que em vez de adorar eu detestava.
Quando voltei a acreditar no Amor, você perdeu a importância.
E foi aí, só aí, que pude falar sobre o que tinha acontecido sem desmoronar. Sem morrer de novo.
Você não sabe disso, mas eu morri. E pra voltar à vida tive que deixar coisa demais pra trás.
Não tenho medo de falar que me tornei quem sou hoje por sua causa.
Porque foi exatamente isso que aconteceu.
Você moldou quem eu sou hoje. Tanto em aspectos bons quanto em aspectos ruins. Principalmente nos ruins.
Eu não sei quem eu seria se você não tivesse me matado há 6 anos.
Isso também já não importa.
Tem gente que acredita que só há um amor na vida.
Eu rezei esses seis anos pra que isso não fosse verdade.
Não seria justo uma menina ter e perder o grande amor da vida aos 17 anos. Seria maldade demais.
Hoje, eu não tenho mais 17 anos.
Não tenho mais o rosto, o corpo, a cabeça e o olhar que tinha antes.
Não foi o tempo, foi você quem me tirou tudo isso.
Tirou não, me obrigou a mudar. A crescer.
E hoje, tantos anos depois, você aparece e assume seus erros. Conversa. Derruba esse ódio absurdo que cultivei por tanto tempo.
Hoje, pela primeira vez em seis anos, tiro um peso que carregava e que já nem sentia mais, de tão acostumada que estava.
Hoje, minha gastrite nervosa não vai atacar.
Hoje, eu vou beber e rir e voltar a me sentir inteira.
Não volto a ser quem eu era, porque isso é impossível.
Mas volto plenamente à vida.
E, por hoje, só por hoje, eu gostaria de agradecer.
Esses anos foram absurdamente difíceis.
Se você estiver lendo isso, saberá o quanto.
Mas hoje, assumindo uma atitude de homem pela primeira vez, você permitiu que eu respirasse.
Do fundo do coração, garoto, obrigada.
Muito, muito obrigada.

Rosário

28 de julho de 2011

Ela o amava.
E ele não estava nem aí.
Como muitas vezes acontece com tantos casais que não se formam.
Ela sabia tudo da vida dele.
E ele não dava a mínima.
Mas ela não se importava com isso, contanto que ele estivesse bem.
Ela sabia que ele não estava bem.
E ele não estava mesmo.
Reclamava da vida e da falta de amor sem se interessar pelo amor que transbordava dela.
Ela queria ajudar.
E ele não deixava.
Então ela não tinha a mínima ideia do que fazer.
Ela sempre passava por algumas igrejas.
E ele também, mas por outras.
Nenhum dos dois era religioso, nunca tinha sido e não se interessava por isso.
Ela entrou numa igreja um dia.
Ele nunca.
Se fosse parar para pensar, nenhum dos dois entraria mesmo.
Ela pediu que rezassem por ele.
E ele chorava escondido no quarto.
"Pedir ajuda a quem acredita não vai fazer mal", pensava ela.
Ela pediu a oração e foi embora.
E ele fechou os olhos decidido a morrer dormindo.
Os dois sentiam que só atrapalhariam se continuassem onde estavam.
Ela acordou rindo do que tinha feito.
E ele acordou se sentindo muito melhor.
Nenhum dos dois entendeu o que tinha acontecido.
Ela se esqueceu dele com o tempo.
Ele nunca entendeu a melhora repentina.
E
isso
pode
ter
a ver
com
a
oração.
Ou pode não ter nada a ver com ela.
Mas,
com
certeza,
teve
tudo
a ver
com
o gesto.

Presente

12 de julho de 2011

Um dia você surgiu.
Já fazia parte da minha vida há anos, mas foi como se estivesse te conhecendo naquele momento.
Não sei como nem porque abri meus olhos e meu corpo pra você. E só Deus sabe o quanto tive que me controlar pra não abrir demais o espírito também.
Intocável - mas eu estava ali, contigo.
Impossível - mas eu estava ali, vivendo.
Errado - mas eu estava ali, fazendo algo do qual nunca vou me arrepender.
Podem ter se passado segundos, meses, anos, séculos. Quem se importa?
A força ainda é a mesma.
E se milhares de empecilhos monstruosamente grandes hoje te tornam novamente intocável, novamente impossível e ressaltam o quão errada é nossa proximidade, saiba que nada dentro de mim mudou.
Nada.
O amor não muda.
Chamo de amor porque isso é lindo demais pra ter outro nome.
E é diferente de qualquer coisa que já senti.
Não menor, nem sei se maior, mas com certeza muito diferente de todo o resto.
E isso que sinto vai seguir comigo a cada novo gesto de carinho e atenção, a cada toque que lembre remotamente o seu.
Porque daqui por diante tudo será sombra do que você é.
Do que você É.

Sempre, pra sempre, no presente.

Desilusão

30 de junho de 2011

Entrei no metrô com mais sono do que o normal e com a certeza de que estaria lotado.
Estava mesmo.
Não entupido, lotado, o que significa que dava pra me mexer lá dentro sem incomodar muito quem estivesse mais próximo.
Fui me apertando pra longe da porta porque ia demorar pra descer (é isso que todo mundo deveria fazer, viu? Ficar parado na porta se você não vai descer na estação seguinte só atrapalha, amiguinho!) e encostei numa das barras laterais de segurança, de costas para as cadeiras.
Em meio a muitos empurrões, senti um toque diferente. Uma cutucada, na verdade
"Moça."
(MEU DEUS, QUE HOMEM LINDO!)"Oi?"
"Senta aqui no meu lugar"
(ME PEDE PRA SENTAR NO SEU COLO, SEU LINDO!) "Imagina, pode ficar."
"Não, por favor. Você parece cansada, pode se sentar."
(MELHORA ESSA CARA, MARINA, RÁPIDO, SORRIA) "Ah, brigada."
"Você tem um sorriso lindo."
(AI, MORRI!) "Ah...rs...brigada."
"Não precisa ficar vermelha."
(FALA ALGUMA COISA, SUA RETARDADA. TEM UM MORENO LINDO FALANDO COM VOCÊ! FALA COM ELE!) "É reflexo da blusa..." (REFLEXO DA BLUSA? QUE TIPO DE PIADINHA IDIOTA É ESSA? AH, DROGA! ELE SÓ DEU RISADA E COLOCOU O FONE DE OUVIDO DE NOVO. ATÉ O FONE DELE É LINDO. CARAMBA, ACHO QUE TÔ APAIXONADA! OLHA ISSO! OLHA ESSA BARBA MAL FEITA! OLHA ESSE BRAÇO, ESSE ABDÔMEN...A CAMISETA TÁ TÃO CERTINHA QUE MARCA CADA GOMINHO DA BARRIGA DELE. UM, DOIS, TRÊS GOMINHOS...E DESCENDO...)
Nisso o trem freia bruscamente, ele se desequilibra e o fone acaba se desconectando do celular, que berra pra todo mundo ouvir a música que, até então, só ele estava ouvindo.

Quem vai querer a minha piriquita, a minha piriquita, a minha piriquita?

Nem que fosse o cara mais lindo do mundo eu encararia aquela piriquita. Nem pensar!
Já terminei namoros de anos por menos.
Olhei assustada, me levantei, desci na estação seguinte e troquei de vagão.

Véio

20 de junho de 2011

Eu nasci.
Era 28 de maio de 1988. Século passado. Milênio passado.
Nem por isso faz tanto tempo assim.
Filha de uma dentista e de um engenheiro eletricista.
Filha de Pequeninha e Pequeninho.
Os dois com mais de trinta anos.
Os dois morando na gigantesca cidade de Clementina.
Os dois perdidinhos.
Reza a lenda que, no dia em que eu fui feita, meu pai soube que eu tinha sido feita.
Não me perguntem como...ele deve ter visto uma cegonha ou um pé de alface mais rechonchudinho, vai saber. Fato é que ele soube.
E mais, soube que era menina.
A família tirava sarro, claro.
"Como pode ter certeza de que é menina? E se nascer menino? Vai ser viado?"
Ele respondia dizendo que sabia o que tinha feito. E ponto.
Voilà, eu nasci.
Menina.
No final das contas ele sabia mesmo.
E quis o gosto musical dos meus pais que eu me chamasse Marina.
Sim, isso mesmo, meu nome vem daquela música chata "Marina-morena-Marina-você-se-pintou", que eu ouviria ao longo de toda a vida sempre que alguém quisesse me fazer uma homenagem.
Aprendi, com o tempo, a manter um sorriso quase verdadeiro quando alguém canta isso querendo me agradar.
É a vida.
Podia ser pior, se fosse só pelo meu pai eu me chamaria Marina Morena.

Brega, né?

Ainda bem que entrou em cena o bom senso da minha mãe. Bom senso ou trauma. Alguém que ganha o nome de Elizabeth DE FÁTIMA tem, no mínimo, noção de como um segundo nome pode virar um problema na vida de uma criança.
Até imagino a discussão dos dois, quanto a isso:

"Quase coloquei Marina Morena, no cartório. Quase."
"Sorte dela e sorte sua que você não colocou, ou teria que arrumar um sofá confortável em alguma casa que não fosse a minha, pra dormir."
"Ai, Pequeninha!"
"Nem ai nem meio ai, Pequeninho!"

Esse diálogo todo é invenção minha, claro.
O resto é verdade.
E Pequeninho e Pequeninha tiveram mais dois pirralhos filhinhos. André e Heitor. Sem segundos nomes.
E Pequeninho viajava muito.
Viajava tanto que a gente acabou mudando pra uma cidade mais próxima de São Paulo, pra que ele estivesse mais presente.
Durante anos, no entanto, ele não esteve.
Viajava a trabalho, às vezes por mais de uma semana, e a gente ficava com a minha mãe.
Quando ele voltava - cansado, estressado - as crianças, como toda criança, faziam bagunça. E ele ficava bravo.
A imagem do Pequeninho na família era de tio bravo. O cara que estava sempre sério. Que obrigava os sobrinhos a comerem feijão quando iam almoçar lá em casa. O carrasco.
Eu era a filha do carrasco.
E a filha do carrasco deu de arrumar namorado mais cedo do que devia. Pelo menos no conceito dele.
Acho que, por ele, eu não deveria arrumar namorados antes dos 40. Mas sou rebelde, né? Arrumei aos 16.
Já tinha ficado com outros meninos, mas, aos 16, decidi namorar sério, apresentar pra família...
Acabei enfiando o menino numa fria tremenda.
"Oi, seu Gilmar."
"Quantos anos você tem?"
"21"
"Minha filha tem 16, você não acha que ela é nova demais pra um rapaz de 21 anos, não?"
"Ah...acho que não."
"Estuda o que?"
"Não estudo."
"Por que?"
"Estou juntando um dinheiro pra faculdade"
"Trabalha em que?"
"Numa ótica."
"Mora sozinho?"
"Com a minha mãe."
"E seu pai?"
"São separados."
"Por que?"
"Oi?"
"EI, VOCÊ GOSTA DE PIZZA?"

Minha mãe entrou no meio da conversa, em caixa alta, pra parar com o interrogatório sem sentido do meu pai.
Ponto pra Pequeninha!

Por causa dessa braveza toda, nunca tive muito contato com o meu pai. A gente mantinha uma relação de respeito. Ele falava, eu obedecia, ou, se não obedecia, eu apanhava, e tava tudo certo.
Não me lembro exatamente quando foi que isso mudou.
Mas acho que foi pela época em que entrei na faculdade.
Talvez por ele ter visto que eu estava crescidinha. Talvez por ter caído da cama e batido a cabeça num belo dia de verão, meu pai passou de carrasco a melhor amigo do mundo. Do nada.
Parou de viajar tanto, resolveu conversar sobre tudo, começou a me chamar pra tomar chopps e a demonstrar muito mais carinho, em todos os sentidos.
Minha mãe diz que ele cresceu.
Meus tios dizem que ficou velho.
Eu acho é que ele descobriu que para impor respeito aos filhos não precisaria ser exageradamente rígido. Que rir não era sinônimo de dar moleza. Que aquela carranca não combinava em nada com o rosto dele - que, aliás, é idêntico ao meu.
E de pai que eu e meus irmãos respeitávamos, seu Gilmar se transformou no melhor pai do mundo, num palhaço que ri na hora certa e briga na hora certa, que aconselha como deve e fala besteira como deve, que a gente respeita sim, muito, e cada vez mais.
E hoje, dia 20 de junho de 2011, fazendo jus ao apelido de Véio, meu pai completa 53 anos.

Por toda essa história, por toda essa presença, por toda essa mudança, por tudo o que representou e representa a todos nós, seus filhos, amigos, irmãos, gostaria de dar os parabéns!
Ser o melhor pai do mundo não é pra qualquer um.
Mas eu já sabia que você seria no dia em que me fez.
Não me pergunte como.
No fim das contas, eu só sabia.

Todo o Sentimento

14 de junho de 2011

Sentada no chão frio, conferindo o relógio a cada cinco minutos, olho para a rua e espero. O vento frio incomoda, mas não o suficiente para desviar minha atenção - o que é uma pena.

Ao meu lado, um amigo fala que é bobagem esperar, que ele não virá, não será homem o suficiente para deixar a namorada e aparecer no último segundo de minha estadia na cidade.
Ele não vai dizer o que ficou tão óbvio em seus olhos, em suas atitudes.
Ele me quer.
Não pode, não deve querer, mas me quer.
E quer com tanta intensidade que faz com que eu espere aqui, do lado de fora, no estacionamento do prédio, sabendo que ele não virá.

Passa um carro, outro, mais um, uma moto, um gato, dois caras estranhos, uma menina sozinha, outro carro, outra moto, mais uma, um cachorro, passa todo tipo de gente na rua, o mundo na minha frente.

O mundo menos ele.

Duas horas depois, me levanto. Meu amigo me abraça.
Abro o portão, ainda esperando algum som da rua. Quando ele está se fechando às minhas costas, escuto.

Paro abruptamente.

Vejo tudo em câmera lenta, sinto tudo em câmera lenta. Um calafrio me percorre a espinha. Fecho os olhos assustados e me viro.

Se fosse um conto de fadas, ele estaria ali. Sorrindo, me olhando, de braços abertos.

Mas quando abro os olhos não vejo ninguém.

Vou embora no dia seguinte, lembrando do que queria ter vivido, sentindo falta do que não aconteceu, chorando copiosamente e tentando me lembrar do começo de um amor que, na verdade, só teve fim.

Ouro de mina

29 de maio de 2011

Desde que me conheço por gente, funciona assim:
Eu acordo cedo, depois que toda a casa já acordou e entrou em movimento. Saio da cama, escovo os dentes, lavo o rosto, arrumo o cabelo e o pijama - como se acordasse sem cara de sono todas as manhãs - e vou até a sala de jantar me preparando para a surpresa.
SURPRESA! BOM DIA! PARABÉNS, QUERIDA!
Abraço minha mãe, meu pai, minha irmã e meus irmãos, admiro a mesa de café da manhã repleta de gostosuras e sorrio quando vejo o arranjo de gérberas com um cartão que está sempre assinado por todos, inclusive pela minha cachorrinha. Gérbera é minha flor preferida.
A gente toma café falando da vida e rindo e discutindo como vai ser a festa naquela noite.
E o dia é uma loucura. Arruma aqui, limpa ali, minha mãe surta - porque ela sempre surta antes das festas - e no final está tudo pronto.
Então chegam os amigos.
Quem me conhece sabe que, no geral, são muitos.
A casa fica cheia de gente e de sorrisos e de abraços e de beijos e de olhares de orgulho e de tias que se admiram com a velocidade com que o tempo passa.
Alguns anos atrás, eu preparava brincadeiras para as festas. Pensava em como me divertir com os amigos, em como fugir na hora do Com Quem Será, em como fingir que estava feliz por ganhar uma roupa e não um brinquedo.
Achava, inclusive, que gostava tanto de aniversários por causa dos brinquedos. Bonecas não. Nunca gostei de bonecas. Brinquedos! Bola, peteca, jogos de tabuleiro...porque não gostava de estar sozinha nem na hora de brincar.
Mas os anos foram se passando e comecei a ligar cada vez menos para os presentes.
Gostava das festas e pronto. Com presente, sem presente, com frio, sem frio, com bolo, sem bolo, com brigadeiro, com brigadeiro (brigadeiro é obrigatório), e sempre, após a festa, eu ia dormir me sentindo a pessoa mais feliz do mundo.
Isso até sábado passado.
Sábado passado foi meu aniversário.
Minha mãe teve de trabalhar a manhã toda e, quando acordei,  já eram 11 horas da manhã. Simplesmente me levantei e fui pra sala, com cara de sono mesmo. Abracei quem estava acordado e ganhei uma flor linda, num cachepô mais lindo ainda. Sentei e tomei café. Minha mãe chegou mais tarde com um buquê - com gérberas - e almoçamos correndo pra arrumar as coisas pra festa.
As pessoas chegaram e me abraçaram e sorriram e trouxeram presentes.
Nenhum brinquedo.
Mas tudo bem, afinal, só o corpinho e a altura são de criança, as velas do bolo já apontam uma idade relativamente avançada.
Ta, avançada não, mas avançada demais para esperar brinquedos no aniversário.
E a festa foi linda! Muitos amigos, muita comida boa, muitos tios e primos.
Cantaram parabéns, e eu não me escondi no Com Quem Será. Pra ser sincera, queria que tivessem algum nome pra cantar no final da musiquinha, mas ninguém sabia o que dizer, nem eu, então pulamos essa parte e fomos para a parte de apagar as velas e cortar o bolo.
Quando a festa acabou, eu me senti estranha. Meio vazia.
Entrei na internet pra ver recados de amigos. Nada no mundo vale mais do que estar perto da sua família e se sentir cercada de amigos. Me admirei com alguns recados, ri de outros, respondi alguns...
Mas faltava alguma coisa.
Me forcei a acreditar que o uísque que estava dando essa sensação estranha e fui dormir encafifada (sim, eu uso o adjetivo "encafifado", e você que é feio?)
Não sabia o porquê, não tinha ideia.
Mas realmente faltava alguma coisa.
Hoje de manhã - já com 23 anos completos, de ressaca, parecendo um panda por causa da maquiagem mal tirada da noite anterior - minha mãe me acordou.
"Ma, levanta! Vamos tomar café juntos"
Foi quando entendi o que estava faltando:

Café da manhã especial
(1 dia atrasado, mas, ainda assim, especial)

Não era um pão diferente, ou bolachinhas, ou mamão, ou xícaras brancas.
Faltava tudo isso feito com carinho e curtido sem pressa, na companhia da melhor família do mundo.

Quadrado

16 de maio de 2011

Metrô. Barra Funda. 19h. 20 pessoas por metro quadrado.
Fila pra comprar o bilhete. Fila pra passar na catraca. Fila pra descer a escada rolante. Fila pra entrar no metrô.
Uma velhinha na minha frente, duas meninas atrás de mim. Todas espremidas.
Meu fone de ouvido esquecido em algum lugar de Itatiba.
As meninas atrás de mim começam a conversar.

- Menina, essa pílula tá me dando uma dor de cabeça!
- Troca.
- Pra quê? É tudo igual.
- É nada. To tomando uma pílula que não me deixa menstruar. O que é ótimo, porque além de eu não engravidar, evita cólica.
- Não menstrua?
- Não. Tomo pílula todo dia. Elas são diferentes. Umas coloridinhas, outras brancas, varia a quantidade de hormônio.
- Ah...sei lá...sou meio quadrada. Acho que se Deus fez a mulher pra menstruar, tem que menstruar.
- ...Sei...
- E outra, deve fazer mal ficar com o sangue todo acumulado.
- Oi?
- É, já pensou? Deve coagular lá dentro.
- Meu...nada a ver...deixa eu explicar, a pílula...
- Ai, que horror! Pensa. Pra onde vai o sangue coagulado? Deve ser duro tirar isso depois.

Nisso o trem entra na estação. A velhinha na minha frente dá um jeito de virar para trás e cutucar uma das meninas.

- Mocinha.
- Oi, senhora.
- Quadrada sou eu que quero que meus netos casem virgens. Você é burra mesmo.

O trem para, a porta se abre e a velhinha vai embora.

O Desafio das Listas - Little 12/05

Dizem que sou um livro aberto.
De certa forma, é verdade.
Não tenho problemas em me expor.
O que, às vezes, gera problemas.
Mas é uma exposição superficial, suficiente para matar a curiosidade dos poucos curiosos.
Se fosse realmente comparar minha vida a um livro, diria que a maioria das pessoas lê no máximo as orelhas e a introdução. E olha lá. A maioria não passa dos agradecimentos da primeira página.
Por vários motivos.
A questão é que, mesmo que alguém queira ler tudo, vai ser difícil.
Algumas páginas eu arranco e escondo até de mim. 
Outras eu guardo pra mostrar um dia. Pra alguém.
Esse alguém pode até ser eu mesma, vai saber.
Por enquanto, falemos sobre pequenos detalhes dos quais vocês talvez não saibam.


"Coisas que eu queria que meus leitores soubessem sobre mim"


1. Sou faixa verde de caratê, ou fui, sei lá. Acho que essas coisas a gente não deixa de ser, mesmo depois que para de treinar.
Treinei por 5 anos, participei de alguns campeonatos, ganhei alguns deles. Eu era boa nisso.
Boa, não excelente.

2. Sou formada em Tradução. Sim, esse curso existe. Existe em várias universidades, na verdade, mas em poucas públicas. Estudei na UNESP de Rio Preto.
Meu objetivo, desde o segundo colegial, era ser tradutora.
A ideia era simples: fazer faculdade de letras, me especializar em tradução e depois, só depois, entrar no mercado de trabalho (pff, coitado do meu pai, já pensou? Sustentar a marmanja e mais os dois marmanjinhos até o fim da faculdade não ia ser fácil).
Descobri a existência do curso no momento da matrícula.
Um daqueles momentos que mudam o rumo da vida toda.
E trabalho desde o primeiro ano.

3. Nunca fui uma aluna nota 10, mas sempre fiquei ali entre o 6,5 e o 9.
Por vagabundagem, confesso. Principalmente depois que a matemática saiu da minha vida.
Nunca me esforcei o suficiente pra tirar 10. Estudava o que achava necessário e depois ia fazer outras coisas de que também gostava. Sair com os amigos, por exemplo. Ou dormir.

4. Namorei sério 4 vezes: Dois namoros duraram mais de 1 ano, os outros dois, menos de três meses. Esses de  meses me machucaram mais.

5. Vou fazer uma tatuagem que represente a Língua Espanhola. Não a parte do corpo que fica dentro da boca, é óbvio. Mesmo porque a língua brasileira é bem mais interessante. A ideia é tatuar as interrogações "¿?" Mas ainda não pensei num jeito de deixar isso legal pra uma tatuagem.


O Desafio das Listas - Suuuuuuucesso 11/05

11 de maio de 2011

Eu estava achando muito fácil esse lance de escrever em listas (o que não diminui de maneira nenhuma a ideia). Talvez porque, até agora, os temas exigiam respostas que me pareciam óbvias e simples.
Isso, é claro, até eu ver o tema de hoje.

"A melhor coisa que aconteceu no seu blog, ever"

Minha primeira reação ao ver o tema foi: E agora José? Vou ter que escrever sobre AS melhorES coisaS. Primeiro por serem muitas, segundo que, a priori, devo citar pelo menos três tópicos em cada post (minha regra, lembra?).

1. Diário de Bordo: Quando viajei para Santiago de Compostela, o blog me serviu como um diário de bordo indireto.
Oi? Como assim?
Bom, não escrevia todos os dias, o que acaba com o termo "diário", e não falava diretamente sobre o que me acontecia, o que tinha comido, quantas vezes usava o banheiro, nada disso. Falava sobre sensações. Hoje esses textos me avivam mais a memória daqueles meses felizes do que muitas fotos.

2. Minha mãe: Minha mãe já existia antes do meu blog. Claro. Esse tópico é dela porque ela é minha leitora mais importante. Mas ela não sabe disso. Bom, não sabia. Comentei com ela que tinha um blog, assim, sem pretensões de que ela realmente fosse procurar saber a respeito (não é uma pessoa de internet).
Mas ela procurou, leu (todos!) os posts e depois veio me falar o que pensava a respeito.
- Li.
- Qual?
- Todos.
- E aí?
- Não gostei dos primeiros, muito depressivos, muitos palavrões.
- E os últimos.
- São ótimos.
- Por que?
- Me falam mais sobre você, mesmo sendo mais indiretos do que os primeiros.
- Que bom que gostou.
- E eu nunca mais te mando comida pra semana, sua ingrata.
- Ah, mãe!!!

3. Comentários: Acho que o tópico "Comentários" vai aparecer em 3/4 das minhas listas. Não reparem. Me refiro aqui, especificamente, a comentários que recebi de gente que admiro muito. Não vou citar nomes, só posso dizer que é uma honra receber comentários de gente que sempre tomei como modelo, sejam amigos, sejam familiares. A blogosfera tem muito disso, "ídolos" que um dia simplesmente comentam num post seu e te deixam sem ação, com cara de besta.
Recebi alguns comentários que me deixaram assim.

Bom, por hoje é só.
Gostaria só de dizer que não vou poder postar todos os dias. Por falta de tempo e porque alguns temas não podem ser aplicados aqui.
Mas por enquanto vamos levando!
Até amanhã.