Todo o Sentimento

14 de junho de 2011

Sentada no chão frio, conferindo o relógio a cada cinco minutos, olho para a rua e espero. O vento frio incomoda, mas não o suficiente para desviar minha atenção - o que é uma pena.

Ao meu lado, um amigo fala que é bobagem esperar, que ele não virá, não será homem o suficiente para deixar a namorada e aparecer no último segundo de minha estadia na cidade.
Ele não vai dizer o que ficou tão óbvio em seus olhos, em suas atitudes.
Ele me quer.
Não pode, não deve querer, mas me quer.
E quer com tanta intensidade que faz com que eu espere aqui, do lado de fora, no estacionamento do prédio, sabendo que ele não virá.

Passa um carro, outro, mais um, uma moto, um gato, dois caras estranhos, uma menina sozinha, outro carro, outra moto, mais uma, um cachorro, passa todo tipo de gente na rua, o mundo na minha frente.

O mundo menos ele.

Duas horas depois, me levanto. Meu amigo me abraça.
Abro o portão, ainda esperando algum som da rua. Quando ele está se fechando às minhas costas, escuto.

Paro abruptamente.

Vejo tudo em câmera lenta, sinto tudo em câmera lenta. Um calafrio me percorre a espinha. Fecho os olhos assustados e me viro.

Se fosse um conto de fadas, ele estaria ali. Sorrindo, me olhando, de braços abertos.

Mas quando abro os olhos não vejo ninguém.

Vou embora no dia seguinte, lembrando do que queria ter vivido, sentindo falta do que não aconteceu, chorando copiosamente e tentando me lembrar do começo de um amor que, na verdade, só teve fim.

2 pitacos:

Tyler Bazz disse...

É muita amarra.

Peterson Quadros disse...

Como somos seres desejosos... Quis, durante todo o texto, que ele aparecesse. Não aconteceu, ficou um vazio e o frio de um dia ventoso como você descreveu no primeiro parágrafo. O que me inquietou foi a última frase. A tentativa de lembrar do começo de algo que só teve fim. Um paradoxo comum, que toca tantos e tantos viventes. Obrigado pela história e uma linda semana.