Vômito

29 de julho de 2011

Você chegou destruindo tudo.
Barreiras, medos, e, acima de tudo, minha inocência.
Não falo de virgindade, falo de inocência mesmo, da crença que eu tinha nas pessoas.
Antes de você, eu acreditava nas pessoas.
Eu acreditava no amor.
Eu acreditava no companheirismo.
Eu acreditava na amizade.
Eu acreditava em mim.
Caramba, eu acreditava em MIM!
E você jogou minhas crenças no lixo. Me enfiou num saco preto, foi até o córrego podre da cidade e me arremessou lá dentro.
Você ria.
Ria de mim.
E quando eu pensava em sair da merda do saco, só ouvia sua risada.
Me tranquei pro mundo porque o mundo era uma mentira.
Passei anos fantasiando uma vida toda fora daquele saco, e quando começava a acreditar que podia sair, lembrava da sua risada, da sua cara, dos seus malditos olhos claros.
Você olhava nos meus olhos.
Olhava, no fundo, e mentia.
Fui enganada pela mentira de que os olhos são o espelho da alma.
São nada.
Podem até ser o espelho de algumas pessoas, mas em você não...em você eles eram o retrato de alguém que você nunca foi e que eu sempre imaginei que fosse.
Você me olhava e ria.
Maldita risada.
Tive que lutar todos os dias pra quebrar cada mentira que você me contou.
Tive que voltar a acreditar em mim, primeiro.
Passei anos pra voltar a acreditar.
Anos.
Mas consegui.
EU CON-SE-GUI.
Ainda assim, não foi o suficiente pra acabar com o ódio que eu sentia de você.
Tive que lutar mais e voltar a acreditar nos amigos. Na bondade das pessoas. Na verdade.
Mas foi só quando voltei a acreditar no Amor que você caiu do pedestal no qual eu havia te colocado. Você ficava lá em cima, como uma imagem de santo que em vez de adorar eu detestava.
Quando voltei a acreditar no Amor, você perdeu a importância.
E foi aí, só aí, que pude falar sobre o que tinha acontecido sem desmoronar. Sem morrer de novo.
Você não sabe disso, mas eu morri. E pra voltar à vida tive que deixar coisa demais pra trás.
Não tenho medo de falar que me tornei quem sou hoje por sua causa.
Porque foi exatamente isso que aconteceu.
Você moldou quem eu sou hoje. Tanto em aspectos bons quanto em aspectos ruins. Principalmente nos ruins.
Eu não sei quem eu seria se você não tivesse me matado há 6 anos.
Isso também já não importa.
Tem gente que acredita que só há um amor na vida.
Eu rezei esses seis anos pra que isso não fosse verdade.
Não seria justo uma menina ter e perder o grande amor da vida aos 17 anos. Seria maldade demais.
Hoje, eu não tenho mais 17 anos.
Não tenho mais o rosto, o corpo, a cabeça e o olhar que tinha antes.
Não foi o tempo, foi você quem me tirou tudo isso.
Tirou não, me obrigou a mudar. A crescer.
E hoje, tantos anos depois, você aparece e assume seus erros. Conversa. Derruba esse ódio absurdo que cultivei por tanto tempo.
Hoje, pela primeira vez em seis anos, tiro um peso que carregava e que já nem sentia mais, de tão acostumada que estava.
Hoje, minha gastrite nervosa não vai atacar.
Hoje, eu vou beber e rir e voltar a me sentir inteira.
Não volto a ser quem eu era, porque isso é impossível.
Mas volto plenamente à vida.
E, por hoje, só por hoje, eu gostaria de agradecer.
Esses anos foram absurdamente difíceis.
Se você estiver lendo isso, saberá o quanto.
Mas hoje, assumindo uma atitude de homem pela primeira vez, você permitiu que eu respirasse.
Do fundo do coração, garoto, obrigada.
Muito, muito obrigada.

Rosário

28 de julho de 2011

Ela o amava.
E ele não estava nem aí.
Como muitas vezes acontece com tantos casais que não se formam.
Ela sabia tudo da vida dele.
E ele não dava a mínima.
Mas ela não se importava com isso, contanto que ele estivesse bem.
Ela sabia que ele não estava bem.
E ele não estava mesmo.
Reclamava da vida e da falta de amor sem se interessar pelo amor que transbordava dela.
Ela queria ajudar.
E ele não deixava.
Então ela não tinha a mínima ideia do que fazer.
Ela sempre passava por algumas igrejas.
E ele também, mas por outras.
Nenhum dos dois era religioso, nunca tinha sido e não se interessava por isso.
Ela entrou numa igreja um dia.
Ele nunca.
Se fosse parar para pensar, nenhum dos dois entraria mesmo.
Ela pediu que rezassem por ele.
E ele chorava escondido no quarto.
"Pedir ajuda a quem acredita não vai fazer mal", pensava ela.
Ela pediu a oração e foi embora.
E ele fechou os olhos decidido a morrer dormindo.
Os dois sentiam que só atrapalhariam se continuassem onde estavam.
Ela acordou rindo do que tinha feito.
E ele acordou se sentindo muito melhor.
Nenhum dos dois entendeu o que tinha acontecido.
Ela se esqueceu dele com o tempo.
Ele nunca entendeu a melhora repentina.
E
isso
pode
ter
a ver
com
a
oração.
Ou pode não ter nada a ver com ela.
Mas,
com
certeza,
teve
tudo
a ver
com
o gesto.

Presente

12 de julho de 2011

Um dia você surgiu.
Já fazia parte da minha vida há anos, mas foi como se estivesse te conhecendo naquele momento.
Não sei como nem porque abri meus olhos e meu corpo pra você. E só Deus sabe o quanto tive que me controlar pra não abrir demais o espírito também.
Intocável - mas eu estava ali, contigo.
Impossível - mas eu estava ali, vivendo.
Errado - mas eu estava ali, fazendo algo do qual nunca vou me arrepender.
Podem ter se passado segundos, meses, anos, séculos. Quem se importa?
A força ainda é a mesma.
E se milhares de empecilhos monstruosamente grandes hoje te tornam novamente intocável, novamente impossível e ressaltam o quão errada é nossa proximidade, saiba que nada dentro de mim mudou.
Nada.
O amor não muda.
Chamo de amor porque isso é lindo demais pra ter outro nome.
E é diferente de qualquer coisa que já senti.
Não menor, nem sei se maior, mas com certeza muito diferente de todo o resto.
E isso que sinto vai seguir comigo a cada novo gesto de carinho e atenção, a cada toque que lembre remotamente o seu.
Porque daqui por diante tudo será sombra do que você é.
Do que você É.

Sempre, pra sempre, no presente.