Nosocomefobia

25 de maio de 2012


Tem gente que demora décadas para descobrir coisas simples.
“Sou gay”, “Tenho medo de avião”, e “A vovó Mafalda era homem”, por exemplo, são só algumas dessas coisas.
Ontem, eu descobri que tenho medo de hospital.
Eu sou homeopata.
Não, isso não é feitiçaria. Nem tecnologia. É só um método de tratamento mais natural.
As "bolinhas de açúcar", como os céticos carinhosamente chamam os nossos remédios, estimulam o corpo a reagir, o que pode demorar um pouco.
Não é placebo. É um método que funciona perfeitamente.
Tão perfeitamente que não, eu nunca tinha entrado em um hospital como paciente.
Mas ontem, quando acordei, pus o pé no chão e senti um arrepio que percorreu meu corpo umas vinte vezes, deu sinais ao meu cérebro de que tinha algo muito errado com o meu pé esquerdo e que esse "algo muito errado" deveria ser interpretado como "dor lancinante". Tudo isso em meio segundo.
Gritei, sentei na cama, respirei fundo. Removi a poeira do cérebro e tentei me lembrar do que poderia ter gerado aquilo.
Lembrei.
O pé não estava inchado, não estava roxo, não estava nada além de dolorido pra burro.
Demorei meia hora para chegar ao trabalho. Um caminho que normalmente faço em cinco minutos.
Passei a tarde tentando trabalhar e ouvindo histórias de gente que quebrou partes do corpo e só foi saber que tinha quebrado semanas depois, de ossos que se esmigalharam, mas não causaram qualquer inchaço, de gente que morreu dormindo porque tinha quebrado o pé e ficou sangrando por dentro e a pessoa não viu e blá blá blá.
Eu sei, não faz o menor sentido, mas entrei em pânico.
O namorado então sugeriu que eu tirasse um raio X. Ele, todo lindo, carinhoso e gripado, me levou até a emergência de um hospital.
Foi quando começou o pesadelo.
O primeiro enfermeiro, quando me viu mancando, perguntou se eu queria uma cadeira de rodas para ir até a sala de espera.
Meu primeiro impulso foi dizer que não, claro que não, eu não queria a cadeira, moço, pelamordedeus, eu pretendia sair dali andando e sem gesso, pronta pra bater uma bolinha!
Mas respondi simplesmente “Não, obrigada“ e continuei mancando.
Quando chegamos à sala de espera, estava lotada. Só havia uma cadeira vaga bem ao lado de um cesto com uma placa na qual amigavelmente se lia “Lixo Intoxicante”.
Eu não estava aguentando parar em pé, então me sentei meio de lado, o mais longe que eu poderia ficar do lixo sem encostar no velhinho do meu outro lado, que estava tossindo os bofes.
O cheiro da sala me incomodava.
As pessoas com cara de doente me incomodavam.
A sala lotada me incomodava.
E, pra piorar, tava passando Malhação na TV.
Comecei a sentir calor, parecia que as paredes estavam se fechando, o ar começou a faltar, tudo começou a ficar escuro e então...
Chamaram meu nome.
Manquei o mais rápido que pude pra fora de lá e entrei na sala do ortopedista.
Ele então perguntou o que tinha acontecido.
Eu expliquei que o meu peito do pé tinha batido no joelho de um cara na noite anterior.
Ele disse, "Ah, então você chutou o cara?"
Eu disse que podia explicar.
Ele disse que duvidava.
Então expliquei que durante o treino de muay thai, na noite anterior, havia dado um chute para acertar a coxa do adversário. Ele levantou a perna para defender o golpe. Errei o chute e acertei o joelho do menino, em vez da coxa. Na hora, com o corpo quente, só senti um pouco de dor. Quando o corpo esfriou, já viu, né?!
Ele me examinou rapidamente, falou que ia pedir um raio X e que era para eu me controlar e não chutar o joelho do rapaz da radiologia, que era meio mala.
Para fazer o bendito raio X andei por todo o hospital. Passei por grutas, abóbadas, elevadores, salas de espera, cafés, salões de festa. Cada ala do hospital parecia um portal para realidades paralelas. Cada realidade me fazia suar frio.
Com o exame em mãos, voltei para a sala da ortopedia.
Tentei voltar, na verdade. Acabei me perdendo e fui parar na ala da maternidade, no terceiro andar.
Quando finalmente encontrei a sala do médico, entrei, sentei e olhei apreensiva enquanto ele examinava o raio X contra a luz.
“Olha, apesar da dor, seu pé tá inteirinho. Pelo menos o osso. Pode ser que haja um sangramento interno no osso (!!), mas isso é o de menos. Coloque gelo. Vai inchar, mas em cinco dias você já deve estar bem. Se não estiver, volte. ”
“É isso?”
“É, é isso. Boa noite.”
Saí de lá na maior felicidade. Quanto mais me aproximava da saída, mais meus pulmões se enchiam de ar e meu coração batia com vida.
Chegando à sala de espera chamei o namorado e saímos eu e ele, mancando e tossindo, respectivamente, para não voltar tão cedo.

5 pitacos:

nay.sartorato disse...

adoro os comentários trágicos que as pessoas fazem quanto estamos doentes, parecem datenas ambulantes prontos para lhe deixar mais "ruim" do que já está! eu raxo! vc manja!

Natalia Máximo disse...

Eu fico parecendo criança quando vou em hospital, pergunto zilhões de coisas pros médicos e enfermeiros, fico tocando em tudo, acho toda aquela parafernália super legal. Acho que é por isso, e apenas por isso, que as pouquíssimas idas ao hospital não me incomodam. Mas melhoras, fique boa rapidinho. E espero que você não tenha que voltar ao hospital!

Anônimo disse...

Qnd criança eu quase nunca ia pro hospital, depois que comecei a jogar handebol, as idas viraram uma rotina..hahahah joelho machucado, ombro, dedos quebrados/ensacados, essa coisa toda...tbm odeio a sensação de estar lá..tenho medo sim de hospital..só vou qnd não tenho outra opção...hahahha
espero que fique bem logo, Ma =) saudades.

Nani.

Anônimo disse...

Nossa que saudade dos seus posts Marina!!! Adorei... me fez lembrar a minha cirurgia no apêndice que tive que fazer 5 dias após chegar em Sampa e sozinha! foi tenso, mas hj eu dou muita risada. bjs Glauce

Bonaldi disse...

Heheheh sei bem como é!