Deus abençoe

26 de julho de 2012

    Então, menina, ele entrou no salão pra cortar o cabelo e começou a contar da chefe. Que a moça era muito inteligente, muito estudada, mas era sem-vergonha. Ficava dando em cima, mesmo sabendo que ele era casado. Aí perguntei o que ela fazia e ele disse que ela aparecia com um decotão, ficava encostando nele o tempo todo e dizendo que a mulher dele tinha muita sorte.
Esses papos de biscate.
Aí, você não acredita, ele disse que decidiu colocar o cargo a disposição do diretor da empresa, falou pro patrão que ou tiravam ela, ou tiravam ele.
O que o diretor fez? Tirou a mulher! Tem que ter muita coragem, né?
Ele disse que amava a esposa e só isso que importava. E tem que ter muito amor, claro. Só o amor vence, só o amor de verdade prevalece. Acho tão bonito isso. Deus abençoe. É tão raro, hoje em dia, encontrar um homem que respeita a esposa.
Ele é especial. A tal da chefe tem razão numa coisa, a mulher dele tem sorte mesmo. Muita sorte. Aliás, só isso, por que não sei mais o que ele viu naquela lá. Songa monga que só, magrela, nariguda.
Vai entender.
Tanta mulher mais interessante e solteira, né?
Eu aqui sem ninguém e aquela mané com um cara tão boa pinta. Mas espera só até ele voltar no salão. Se aquela boba chamou a atenção dele, imagina o que eu posso fazer, né?
É só jogar meu charme e o gato tá no papo.
Ah, olha, o trem tá chegando. Te ligo de novo mais tarde pra perguntar da Carminha e da Nina, não vi o capítulo de ontem porque tava no culto. Tá, tá bom, fica com Deus. Beijão.

Certidão

4 de julho de 2012

Declaro que no dia 28 de maio de 1988, no hospital de Birigui - SP, nasceu Marina Cury Reis, branca, sexo feminino, corinthiana. Filha de Gilmar dos Reis, chamado "Gilmar" em homenagem ao famoso goleiro que tantas bolas defendeu milagrosamente pelo Timão, e de Elizabeth de Fátima Cury Reis, brasileira, dentista, corinthiana, sofredora e maloqueira sim senhor.
A menina nasceu com 50 centímetros, 2,5kg de corpo e 3Kg de cabelo.
Nasceu chorando os bofes. Prova, segundo o avô paterno, Pedro dos Reis, de que seria boa sofredora.
Declaro que todos os exames básicos foram realizados ainda no hospital.
Pelos exames, notou-se que a menina apresenta o coração mais forte que o normal.
O que é normal, no caso dos corinthianos.
Toda a família esteve presente para recepcioná-la portando faixas de incentivo nas quais se lia "Jogai por Nós" e "Família CURYnthians" e entoando o Hino Nacional. Segundo um dos primos, Rodrigo Cury Machi, a ideia era que ela já saísse do hospital sabendo cantar a primeira frase do hino: "Salve o Corinthians".
Diante de protestos de torcedores de outros times, que declaravam achar o cúmulo tantas pessoas pressionarem uma recém-nascida para que ela se tornasse sofredora, os padrinhos, Givaldo dos Reis e Silmara Cury Trevisan declararam que não estavam forçando nada, que ela já havia nascido daquela forma, que qualquer sofrimento valeria a alegria da vitória e que não, palmeirenses e santistas nunca entenderiam.
Referiram-se apenas aos palmeirenses e santistas porque o São Paulo havia empatado com o time do Botafogo naquele mesmo dia e não havia torcedores presentes ou ausentes, visto que sãopaulinos só são sãopaulinos quando vencem.
Quando, em tom de chacota, o único tio palmeirense, João Carlos Trevisan, questionou sobre a Taça Libertadores, a menina começou a chorar. O choro foi interpretado como desespero, pelo torcedor do palestra, e como alegria e emoção, por todo o resto da família.
Declaro apenas, diante disso, que o coração dela é forte o suficiente para suportar tanto a derrota quanto a vitória.

O referido é verdade e dou fé, muita fé, fé sempre!

O oficial de registro civil.