Primeiro escreveu um texto imenso
sem pontuação alguma sem espaços ou qualquer sinal de parada porque não havia
nada parado ali dentro apenas uma vontade incontrolável de despejar ideias
negativas ruins sem nexo mas cheias de sentimento desesperado e vontade de chorar
GRITAR e mandar meio mundo à merda. Não. Ninguém pode se encontrar em meio a
tanto caos.
Então apagou.
Tentou de novo. Respirou fundo e
foi escrevendo o que sentia. Usou pontos finais. Leu tudo depois. Viu. Que. Os.
Pontos. Não. Faziam. Sentido. Sentiu-se presa entre pontos finais e sua
capacidade invejável de concluir as ideias. Limitar. Os limites são um
problema. Os limites são o problema.
Então apagou.
Pegou um espelhinho... Olhou-se e
não se viu... Mirou os olhos vazios por horas e sentiu a queimação no estômago.
Queria parar. Arrancar a gastrite com a mão. Equilibrar as barras, vírgulas,
uma caralhada de travessões que a comprimiam, pontos finais que a restringiam e
vontades condenáveis de ser reticente quando tudo que a obrigavam a fazer era
ser exata. Seca. Pontual. Queria berrar, essa é que era a verdade. Permitir-se
o inadmissível, mergulhar na escuridão na esperança de que, ao não ver mais
nada e nem ninguém, conseguisse finalmente se enxergar. Mas não berrou. Não
mergulhou. Não se viu. Leu o que tinha escrito e teve medo de expor o que não
devia.
Então apagou.