Reforma

24 de abril de 2016

Eu me lembro até hoje do dia em que fui conhecer o meu apartamento.
Procurava por ele havia meses. Tinha visto muquifos custando fortunas, apartamentos que comportavam três quartos, sala de estar, sala de jantar, escritório, hall, varanda gourmet, dois banheiros e uma areazinha externa em 50m², casas ideais localizadas no fiofó do Judas, enfim, foi um alívio entrar naquele apartamento e perceber que tinha encontrado o meu cantinho.
Tudo era lindo, pintadinho, bem arrumado... Menos o banheiro. O banheiro era um horror. Enorme, mofado, com um piso chapiscado de cinza, azulejos floridos nas paredes, o armário tinha um ninho de baratas aladas e, pra fechar com chave de ouro, a privada e a pia eram roxas. Sério, roxo-beterraba. 
Desde o primeiro dia, eu queria reformar aquele banheiro. Meu sofrimento em relação a ele era físico. Dava até dor de barriga. Ainda bem que a privada, apesar de roxa, funcionava.
Mas como na vida nada é tão fácil, só quase quatro anos após a mudança eu finalmente consegui começar a tão sonhada reforma.
Meu pai foi até o apê pra fazer um projetinho e acabou por perceber que o banheiro era grande o suficiente pra virar dois. Era bom demais. Eu ganharia, além de um banheiro decente, uma suíte.
Que chique!
E de quebra ainda me livraria do lavabo do fundo, que eu não citei aqui antes, mas era bem mequetréfe.
Começaram as obras. Tiraram o armário das baratas e, com ele, a pia beterraba. Que alegria! Dali pra frente, tudo seguiu exatamente como planejado.

Por aproximadamente dois dias.

Aí, quebraram o chão de taco pra abrir a porta da suíte e descobriram que ele estava podre. Não acharia ruim trocar o taco se a casa inteira não fosse de taco. Mas tá podre, né? Fazer o quê? Troca o taco.
Poxa, mas por que ele tá podre? Ah, é por causa da umidade que vem do chão? Ah, é essa umidade que mofa as paredes? Então arruma as paredes, né? Lixa até o tijolo, passa mil produtos anti-mofo, passa impermeabilizante, passa massa e pinta todas as paredes. Todas. E aí troca o gesso, né? Porque essa moldura rococó é do tempo do onça. E essas janelas com persiana de madeira que já foram lar de 5 gerações de cupins? Aproveita e já troca. Já que tá no inferno, abraça o Bolsonaro. Então, aproveita e já transforma o lavabo mequetréfe numa lavanderia. Aí, o que era lavanderia vira cozinha e a cozinha vira copa (Quem disse que não ia ter copa?). E troca os batentes... E as portas... E as soleiras.

Enfim, a reforma ia durar só o mês de dezembro. Mas aí, especificamente em dezembro de 2015, teve aquele lance de natal, ano novo... Não deu. Ia ser entregue antes do carnaval, mas nada funciona antes do carnaval nesse país, né? Esquece. Antes da Páscoa saía com certeza. Só que a Páscoa foi cedo esse ano... Em março, é mole? Bom, o Lu faz aniversário em abril, pelo menos a festinha dele ia ser no apê e... Não, não foi. A próxima previsão é eu poder comemorar o meu aniversário em casa, no fim de maio.
Enquanto isso, vou sonhando com a minha caminha, meu sofazinho, meu Game of Thronezinho, e com a grana que preciso ganhar pra, terminado tudo isso, poder finalmente partir pra decoração, que é a parte massa.

E com os open houses, claro.

Na pior das hipóteses, a gente faz um open house junto com o natal.

Do ano que vem.

Quem sabe?